Iguaçu, um palácio para a exposição de Leonardo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de julho de 1987
Defronte ao Palácio Iguaçu, um imenso painel com toques do Renascimento. Em seu interior, pessoas vestidas como no Século XV. Talvez, até a Camerata Antiqua fazendo a música da época em que Florença era a mais rica das cidades-Estado italianas. Sonho? Loucura? Não. Apenas uma idéia que o secretário René Dotti, da Cultura, trouxe do Rio de Janeiro, na semana passada, após almoçar no "Sol & Mar" com dois executivos da IBM do Brasil, J. P. Correa Neto (diretor de propaganda) e Marcos Barbosa (gerente de comunicação), mais o jornalista Arakém Távora e o advogado Constantino Viaro, superintendente da Fundação Teatro Guaíra. Durante quase três horas, usando todo o seu poder de oratória forense de 30 anos de advocacia, o entusiasmado secretário da Cultura do Paraná procurou convencer os executivos da IBM a incluírem Curitiba no roteiro da exposição recém encerrada no Museu Nacional de Belas Artes e que agora vai para Brasília (11 a 30 de julho). xxx De princípio, a IBM não tinha incluído Curitiba entre as capitais que receberiam, neste ano ao menos, a notável mostra sobre Leonardo Da Vinci, já apresentada em São Paulo e Rio de Janeiro. Afinal, não existe em nossa Capital nenhum espaço livre, com mais de mil metros, capaz de comportar os painéis, maquetas e demais peças que mostram a grandeza e multiplicidade de Leonardo da Vinci (Anchiano, 15/04/1452 - Cloux, França, 1519), que foi pintor, arquiteto, escultor, mecânico, urbanista, engenheiro, fisiólogo, químico, botânico, geólogo, cartógrafo, físico e precursor da aviação, da balística, da hidráulica, da óptica e da acústica. Há muitos anos que a IBM "adotou" Leonardo da Vinci como seu símbolo de criatividade humana. A exposição que agora se encontra no Brasil é um trabalho gigantesco, com a reprodução, especialmente em maquetas, das invenções do gênio florentino, além de quadros com reproduções de desenhos, plantas e outros trabalhos. Um sistema de audiovisual, contínuo, mostra sua genialidade de pintor e escultor e um belíssimo filme, interpretado por Franck Langella ("Eu, Leonardo"), com Paulo Goulart fazendo a narração que originalmente era de Richard Burton (1925-1984), também tem apresentação simultânea na mostra. Enfim, uma exposição didática que teve a maior (e mais do que justificável) cobertura da imprensa nacional e já foi vista por milhares de pessoas em São Paulo e Rio de Janeiro. O secretário René Dotti, graças, exclusivamente, ao empenho do jornalista Arakém Távora, coordenador do projeto "Encontro Marcado" (patrocinado pela IBM), conseguiu uma audiência com os executivos da empresa, na área de comunicação, para tentar convencê-los a investir na vinda da mostra ao Paraná. Dentro de alguns meses, a IBM inaugura sua sede própria, na Mansão dos Leões, na Avenida João Gualberto, na qual um grande espaço será destinado a atividades culturais. Mas apesar de grande, não o suficiente para uma mostra como a de Leonardo da Vinci. Assim, René Dotti, autorizado pelo governador Álvaro Dias, levou a proposta de que a exposição venha para ser mostrada no amplo Hall do Palácio Iguaçu - que, inaugurado há 33 anos, jamais abrigou uma exposição deste nível, aberta ao público. xxx De princípio, a proposta de René foi recebida com simpatia. Afinal, prometeu que o Estado oferecerá todas as condições para que a mesma seja vista por milhares de pessoas: uma linha gratuita de ônibus entre a Praça Rui Barbosa ao Palácio Iguaçu para conduzir os interessados, comitivas vindas do Interior, com estudantes e professores, e numa idéia original, contratação pelo Teatro Guaíra de atores e atrizes que, vestidos a caráter, estarão trabalhando como monitores na exposição. A idéia de levar a Camerata Antiqua a fazer concertos durante o tempo em que a exposição permanecer no Palácio Iguaçu ainda não foi detalhada - e nisto fará falta, é claro, o cravista e fundador daquele grupo, Roberto de Regina, vítima da atual administração da FUCUCU, que obrigou-o a demitir-se do cargo. Ivens de Jesus Fontoura, um dos braços direitos de Dotti - e que sonha em desenvolver um projeto muralístico, em plástico ou pano resistente, cobrindo parte da fachada do Palácio Iguaçu (a idéia chegou a ser cogitada quando da posse de Álvaro Dias), já está em processo de ebulição, fazendo riscos & rabiscos de um projeto a respeito - que deve chegar às mãos do governador ainda este mês. xxx Promessas, planos, projetos, sonhos! Muito entusiasmo. Da parte da IBM, uma discreta boa vontade. Com base no que de realmente o Estado possa oferecer - afinal, as despesas maiores são cobertas pela multinacional - é possível que a grande exposição venha a Curitiba. Mas é melhor não sonhar muito. Pois de sonhos e promessas não cumpridas, a área cultural está cheia.